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Memória, emoção e sono

  • L-PSICOBIO
  • 1 de jun. de 2021
  • 4 min de leitura

“Memória” significa aquisição (aprendizado ou aprendizagem), formação, conservação e evocação (recordação ou recuperação) de informações.

A memória é dividida em memória declarativa e processual. A declarativa armazena os fatos e eventos que podem ser lembrados ou “declarados” conscientemente. Ela é subdividida em memória episódica (associada a eventos autobiográficos e história de vida, como lembrar do primeiro emprego, uma data especial) e memória semântica (associada a recordação de fatos e conceitos, permite que o ser humano se comunique usando linguagem, por exemplo, através do conhecimento da língua portuguesa, história, identificação de animais e cores).

A memória processual é considerada uma memória implícita, inconsciente e de longo prazo, a qual adquirimos através da repetição e prática. Ela permite que realizemos ações motoras comuns, envolve o processamento de “hábitos”. Mesmo passando anos sem executar as tarefas, podemos buscá-las rapidamente na memória. São exemplos: memórias de como andar de bicicleta, nadar e saltar, não podemos “declarar” o processo de aprendizagem.

As memórias também podem ser identificadas pelo tempo que permanecem conosco: a memória de curto prazo ou memória de retenção temporária necessita passar pelo processo de consolidação para ser uma memória de longo prazo. Esse processo não é linear, outros processos acontecem, as informações podem ser alteradas e são integradas a outras memórias que criam uma rede maior de conhecimento. É um processo dinâmico e é através dele que aumentamos nosso repertório sobre nós mesmos e sobre o mundo em que vivemos.

O processo de consolidação das memórias desenvolve-se através de uma interação entre o hipocampo (que guarda memórias de curto prazo) e o córtex cerebral (que armazena memórias de longo prazo), eles comunicam-se em reverberação até “transferir” a memória do hipocampo para o córtex, de forma independente do hipocampo. Esse processo de consolidação depende do sono para ser efetivo. Estudos demonstram que a capacidade de recordar informações é maior depois do sono e, ainda, existe uma correlação positiva entre desempenho da memória e atividade cerebral no sono de ondas lentas. Portanto, um indivíduo que não dorme adequadamente está prejudicando a sua formação de memórias de longo prazo.

Muitas memórias nos remetem a emoções, não é mesmo?! A emoção pode ser definida como a integração de três componentes (fisiológico, subjetivo e resposta comportamental) que desencadeiam uma expressão emocional. Para alguns autores, existem seis emoções básicas que desencadeiam expressões emocionais parecidas independentemente de contextos: a raiva, o medo, nojo, a surpresa, alegria ou felicidade e a tristeza.

Na emoção, o componente fisiológico pode ser tomado como a emoção propriamente dita e corresponde ao conjunto de alterações que acontecem no nosso corpo, desencadeadas pelo sistema nervoso autônomo, como a taquicardia, sudorese, boca seca, entre outras características. Já o componente subjetivo representa o que é sentido internamente, é algo que o indivíduo passa e só ele sabe. A resposta comportamental se refere à reação do indivíduo, o que ele fará no momento, por exemplo: gritar, correr, enfrentar.

​ E como a emoção se relaciona com o sono e com a memória? O sono favorece especialmente a consolidação da memória para situações de estímulos e eventos emocionais. Supondo que ao longo de um dia o indivíduo tenha vivenciado uma experiência neutra e uma emocional, após um episódio de sono, a experiência emocional estará mais consolidada no córtex cerebral se comparada com a neutra.

​ Do ponto de vista da clínica e saúde mental, esse fenômeno tem uma relevância gigantesca! Uma vez que, com a consolidação prioritária da memória emocional, conforme o tempo passa e os episódios de sono vão acontecendo, a memória em si (acontecimento, fato) permanece de maneira mais robusta e a carga emocional vai diminuindo, o que nos permite seguir em frente diante das dificuldades da vida. Ou seja, o que o sono parece fazer é favorecer a formação de memórias muito duradouras das nossas experiências emocionais, mas trabalhando na redução da carga emocional dessas experiências, o que confirma a importância para o nosso bem-estar e saúde mental.

No processo de aprendizagem, a formação de memórias é indispensável. Diversas pesquisas (ANDREOLLI, 2012; KLUTHCOVSKY, et al., 2017; SILVA, et al., 2019; KINTSCHEV, 2021) demonstraram a qualidade de sono negativamente afetada de estudantes universitários de diferentes cursos de ensino superior em heterogêneas localidades. Fato que interfere, inclusive, no próprio desempenho acadêmico. Em uma rotina ideal, o estudante deveria, entre um dia e outro de aula, obrigatoriamente ter uma noite de sono com duração e qualidade adequadas.

No universo dos estudantes, o sono tem um papel especial após o meu aprendizado do dia e antes do aprendizado do dia seguinte. Isso porquê, o conteúdo que eu aprendi durante o dia precisa ser consolidado e essa consolidação vai acontecer principalmente enquanto eu estiver dormindo, mostrando a importância desse sono para o que eu estudei antes. Além disso, esse processo de consolidação deixa o hipocampo “mais livre”, com mais espaço para armazenar temporariamente o meu aprendizado do dia seguinte. Portanto, uma noite de sono de baixa qualidade prejudica o processo de aprendizagem de ambos os dias.

REFERÊNCIAS

ANDREOLLI, C. P. P., MARTINO, M. M. F. Academic performance of nigh-shift students and its relationship with the sleep-wake cycle. Sleep Science, v. 5, n. 2, p. 45-48, 2012.

Izquierdo, I. (2018). Memória. Artmed.


KINTSCHEV, Marília Rocha et al. Chronotype change in university students in the health area with excessive daytime sleepiness. Revista Brasileira de Educação Médica, v. 45, n. 01 2021.

KLUTHCOVSKY, Ana Claudia Garabeli Cavalli, et al. Qualidade do sono em estudantes de medicina de uma universidade do Sul do Brasil. Conexão ciência (online). Minas Gerais, v. 12, n. 1, p. 78-85, 2017


SILVA, A. M., LOPES, R. S., SILVA, G. C., LUCCHESE, R., ALMEIDA, E. G., LEMOS, M. F., GUSSONI, M. T. Padrão de sono, fadiga e perfil antropométrico de estudantes universitários. Humanidades e Tecnologia em Revistas (FINOM), v. 19, n.1, p. 7-19, 2019.

Conteúdo elaborado pelas ligantes Laura Dias e Thayna Cruañes.

 
 
 

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